A propósito del proyecto UNILA , un artículo de Simón Schwartzman titulado Saudades da Universidade Patrice Lumumba ha dado lugar a una viva polémica entre colegas brasileños.
Dado el interés del tema y a que este Blog se ha visto envuelto indirectamente en la polémica, transcribo abajo el artículo de Simón y los comentarios aparecidos en su Blog.
Referencias a UNILA
En qué está el Proyecto que instituye la Universidad Federal de la Integración Latinoamericana (UNILA), 11 junio 2008
Universidad Federal de Integración Latino Americana: Reflexiones de Ingrid Sarti, 4 mayo 2008
Nace la Universidad Federal de Integración Latino Americana (UNILA) en Brasil, 20 marzo 2008
11 Junho 2008
Saudades da Universidade Patrice Lumumba
Simón Schwartzman
Em 1960, a União Soviética criou a Universidade Patrice Lumumba, hoje a “Universidade Russa de Amizade dos Povos”, para estudantes do terceiro mundo. Na mesma inspiração, o governo brasileiro está criando agora a Universidade Latino-Americana, em Foz de Iguaçu, e conforme anunciado hoje pelo Secretário de Educação Superior do MEC, a Universidade da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, para estudantes da África, a ser estabelecida em Redenção, a 60 quilômetros de Fortaleza, considerada a primeira cidade brasileira a abolir a escravidão.
Não sei como anda a Universidade Pratice Lumumba hoje. Olhando na wikipedia, dá para ver que, entre seus ex-alunos notáveis, está Carlos o Chacal; Mahmoud Abbas, dirigente do Fatah; Aziz al-Abub, psiquiatra e torturador do Hezzbolah; o espião da KGB Yuri B. Shvets, hoje refugiado nos Estados Unidos; e a linguista brasileira Lucy Seki, que depois completou seu doutorado na Universidade do Texas. Com o fim da União Soviética, além da mudança de nome, o curriculo também mudou, e a doutrinação leninista foi substituida por cursos de administração de empresas, entre outros. Há alguns anos atrás, a universidade foi palco de ataques racistas violentos contra africanos e orientais, que revelaram o isolamento e as péssimas condições de vida dos estudantes de terceiro mundo que ainda se aventuravam por lá. Na página da universidade na Internet dá para ver que com 25 mil estudantes, todos eles pagantes, e mais de 2000 professores, ela está se esforçando por se transformar em uma universidade de qualidade, embora sua produção acadêmica (“for the last 3 years 167 monographs, 58 textbooks and 485 manuals have been published at the University”) não chega a impressionar. Mas ela deve ter coisas boas, sobretudo a localização em uma grande cidade que é Moscou.
Duvido que os idealizadores das universidades de terceiro mundo brasileiras conheçam a experiência da Patrice Lumumba, mas a idéia é a mesma, com o agravante que seus estudantes ficarão exilados em regiões remotas do país. A Universidade Latinoamericana, por exemplo, segundo seus organizadores, tem como propósito “a integração da América Latina através de um novo elo substantivo: a integração pelo conhecimento e a cooperação solidária entre os países do continente mais do que nunca em uma cultura de paz.” Lembra alguma coisa?
Não há dúvida de que o Brasil poderia ter um papel muito mais importante do que tem tido em estimular e apoiar a vinda de estudantes da América Latina, África e outras regiões para nossas melhores universidades. Isto seria bom para eles, a nos ajudaria a sair de nosso provincianismo. O melhor instrumento para isto são as universidades já existentes, que precisariam de apoio, estímulo e liberdade – inclusive de cobrar – para atrair possíveis candidatos com o que elas têm de melhor a oferecer – os cursos profissionais de qualidade, os programas de pós-graduação, a capacidade instalada de pesquisa e a interação com seus estudantes e com sociedade mais ampla da qual elas participam, nos principais centros urbanos do país em que estão instaladas. Universidades de primeiro mundo, e não de terceiro.
Postado por Simon Schwartzman às 11:22 AM
COMENTARIOS
Tamo Chattopadhay disse…
As someone who completed his first graduate studies in Patrice Lumumba, I completely agree with Simon’s opinion. I was born in India, and in 1983 (at the height of the cold war, when India and USSR were strategic allies) I got a scholarship to study Physics in Russia. I was 19 and was hungry to get out of Calcutta and see the world. I had no control over the university where I could study – it was a lottery (a propaganda stance by the Soviet regime which insisted that ALL its universities are equally good!).
I was admitted to Patrice Lumumba. While there were quite a few good professors in the Physics department, overall, the university had a very poor reputation – especially among ordinary Russians / Soviet citizens, and among Russian scholars / scientists. Indeed, it did not take me a very long time to understand that I was in effect attending a second (or third) tier university of former Soviet Union. The most depressing part of that education was the student body itself – who have been ‘selected’ from all over the world primarily for their (or their countries’) political inclinations. Ultimately there are two most important elements in higher education – a stimulating faculty and a stimulating student body. On both these counts Patrice Lumumba failed miserably. In fact most of the students (from Africa, Asia, Latin America) were not interested in study – the atmosphere was nothing like what one would see in other regular universities of USSR, which I had visited as well, including the famous Moscow State University and Kiev State University (Ukraine). Given the political nature of the university; the administrative leadership was very closely aligned with the political party and this led to academics and research excellence being delegated to a lower priority.
I know what a good university looks and feels like. I attended two of them – later in my life in the United States: City University of New York (where I did an MBA) and Columbia University in New York (where I did my Doctorate). I have been also teaching at Columbia University’s School of International and Public Affairs. So I know what a university classroom full of engaged graduate students who really want to learn (because they have paid a lot of money to receive their education) look like. Patrice Lumumba University, in my days (1983 – 1989) was not one of those stimulating environments. It was an environment of overwhelming mediocrity. Indeed, many of my fellow classmates (Indian students) who directly returned to India after their studies at Patrice Lumumba had a very hard time finding proper employment in their professions. Incidentally, two years ago on Avenida N-S Copacabana near Posto 4, I ran into a Peruvian student whom I knew back in 1983 in Patrice Lumumba – who is still re-doing his studies in Physics – and this time as a foreign student in Brazil.
May be with full tuition paying foreign students Patrice Lumumba has improved today. But as a model of “promoting friendship among nations” Brazil should look into other education collaboration alternatives with African countries, than recreating a recipe for mediocrity and political nepotism.
Dr. Tamo Chattoapdhay
Adjunct Assistant Professor
School of International and Public Affairs, Columbia University in New York
João M. Lucas Barbosa disse…
Caro Simon,
Tomei conhecimento da ideia da Universidade da Comunidade dos Paises de Lingua Portuguesa através de discurso proferido pelo Governador do Estado do Ceará no momento em que recebeu uma comenda por ter ajudado na criação de uma faculdade de Medicina em Sobral (CE) na época em que era Prefeito daquela cidade.
Mesmo sem ter o conhecimento das experiências relatadas por você, fiquei escandalizado. A solução obvia para que o Brasil participe positivamente no desenvolvimento dos paises africanos eh extamente ajudando na formaccao da nova geração de tecnicos e pesquisadores daqueles paises. Mas isto se faz trazendo seus alunos para estudarem em universidades brasileiras de qualidade e não criando universidades especiais apenas para eles.
O Ceara é um estado onde a contribuição do governo federal na formação superior da nossa juventude é muito deficiente. Temos uma boa universidade federal. Entretanto ela está tão longe de atender a demanda que o proprio estado, com seus parcos recursos, teve de montar 3 universidades estaduais, com muitos campi espalhados pelo estado. Observo que a cidade de Redenção nao é nenhuma das que é atendida por este sistema estadual de educação superior. Seus habitantes certamente gostariam de ter uma universidade para atender à populaccao do municipio. Teremos, ao inves disto, uma universidade para atender alunos do exterior.
Quem serão os professores de tal universidade? Tenho enormes duvidas de que venham a ser realmente competentes.
Me parece que a proposta tem cheiros fortes de racismo.
Um abraço
Leandro R. Tessler disse…
Não posso deixar de concordar com tudo o que foi escrito aqui acerca da Patrice Lumumba. Mas parece-me que as propostas da UNILA e da UniCPLP não é nem de longe repetir sua trajetória.
Não se tratam de universidades para doutrinação de estudantes do terceiro mundo, mas de instituições que já nascem com uma proposta de internacionalização, tão ausente nos cursos de graduação brasileiros. Quantos estudantes estrangeiros de graduação temos nas grandes universidades públicas? Até há pouco tempo era impossível algum estrangeiro inscrever-se no vestibular da Unicamp usando o passaporte como documento.
O alvo de cada uma das novas universidades corresponde a regiões do mundo onde a influência brasileira precisa ser maior. Em relação à américa latina, isso ficou claro para quem esteve na recente CRES2008 em Cartagena de Indias. Os assuntos e posições tomadas pelos representantes de nossos vizinhos soavam antigos e defasados a ouvidos brasileiros. O ponto em que estamos é relevante e temos muito para contribuir na formação acadêmica (não doutrinária) de intelectuais na região.
Das duas a UNILA está mais avançada. Há no projeto a clara intenção de formar uma universidade de pesquisa em ciências e humanidades, com corpos docente e discente internacionais, com números adequados aos de uma instituição moderna.
Quanto às localizações escolhidas, há vantagens e desvantagens. Algumas universidades de ponta foram criadas no meio de campos e canaviais. Imagine o que devia ser Palo Alto quando Leroy Stanford chegou lá.
Hélgio Trindade disse…
Caro colega Simon: como Presidente da Comissão de Implantação da Universidade Federal da Integração Latino-americana (UNILA) fiquei surpreso com o artigo publicado em seu Blog. Certamente foi uma avaliação superficial para um renomado especialista em educação superior. Creio que a melhor forma de esclarece-lo seria transcrever as referencias valorativas que tem sido feitas pelo nosso colega chileno José Joaquim Brunner no seu prestigioso blog:
http://200.6.99.248/~bru487cl/files/2008/06/post_88.html
Tomo a liberdade de transcrever em sua edição de 13 de junho de 2008, publicada dois dias após o seu texto.
Simon Schwartzman disse…
Ao contrário do que diz Helgio Trindade, José Joaquin Brunner não faz nenhuma “referencia valorativa” ao projeto da UNILA, mas se limita a transcrever sua entrevista. A entrevista é uma declaração grandiosa de intenções, que não muda nada minha idéia de que se trata de uma iniciativa mal concebida, com poucas perspectivas de sucesso, em um momento em que existem problemas sérios de qualidade, relevância e ineficiência de grande parte das universidades federais do país.
Helgio Trindade disse…
Prezado Simon: não quero polemizar sobre o tema, mas o fato de Brunner ter divulgado duas vezes em seu blog a UNILA é um indicador de que reconhece que o projeto é sério, respeitavel e inovador. Estou conciente que um bom projeto não basta se não for implantado com os cuidados academicos adequados no que se refere a qualidade dos professores, dos alunos e dos cursos. A responsabilidade com que assumi diferentes funções no campo da educação superior e da ciência e tecnologia, como bem sabes, certamente me credencia para conduzir o projeto de uma nova universidade publica federal, com uma vocação inovadora e qualidade academico-cientifica.
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