Columna de opinión de Jorge Wertheim, sociólogo, director ejecutivo de RITLA (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana), ex Representante de Unesco en Brasil , y de Miriam Abramovay, socióloga, maestra en sociología de la educación en la PUC-SP, investigadora sobre asuntos de violencia escolar.
O desrespeito à diferença
Folha de S. Paulo/SP
Domingo, 07 de junho de 2009
JORGE WERTHEIN e MIRIAM ABRAMOVAY
AS CIÊNCIAS biológicas, humanas e sociais avançam, e seus estudos fornecem, cada vez mais, elementos para derrubar mitos, tabus e preconceitos. Mesmo quando não apresentam resultados conclusivos, elas apontam para concepções e percepções mais razoáveis que as do senso comum, muitas vezes carregado de equívocos.
No caso da homossexualidade, a biologia e a psicologia indicam, há muito, que não se trata de doença física, tampouco mental, como se tentou demonstrar durante anos. A sociologia e a antropologia, por sua vez, já demonstraram que as identidades sexuais são construções humanas, e sua aceitação e rejeição variam conforme tempo e espaço, ou seja, são relativas.
Curiosamente, essas ideias parecem não ter ainda penetrado suficientemente no seio da maioria das sociedades. O desvio de um padrão de comportamento sexual continua provocando estigma e discriminação.
Mais uma pesquisa demonstra que as ciências têm passos mais céleres do que a sociedade em geral.
Lançado há poucos dias em Brasília, sob os auspícios da Secretaria da Educação do Distrito Federal e da Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana), o estudo “Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: Violência e Convivência nas Escolas” apresenta dados e depoimentos que explicitam, uma vez mais, a homofobia no ambiente escolar.
As autoras da pesquisa não têm dúvidas -até porque já realizaram estudos semelhantes em outros Estados- de que o problema afeta escolas de todo o país. Trata-se, portanto, de um fenômeno nacional e, certamente, internacional, como o comprovam outros tantos estudos, depoimentos e denúncias mundo afora.
Para ter uma ideia, a recente pesquisa revela que os homossexuais são o grupo que sofre mais discriminação nas escolas de Brasília: 63,1% dos entrevistados (em uma amostra de 10 mil estudantes e de 1.500 professores) alegam já ter visto pessoas que são (ou são tidas como) homossexuais sofrerem preconceito.
Mais da metade dos professores também afirmam já ter presenciado cenas discriminatórias contra homossexuais nas escolas.
O dado torna-se mais chocante quando 44,4% dos meninos e 15% das meninas afirmam que não gostariam de ter colega homossexual na sala de aula. É muito. E é grave.
Cumpre reconhecer que o Brasil tem discutido a questão da homofobia. A Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República lançou, no último dia 14 de maio, o “Plano Nacional de Promoção da Cidadania e dos Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais”, que contém 50 diretrizes e ações necessárias para garantir a igualdade de direitos e o pleno exercício da cidadania a esse segmento da sociedade brasileira. No entanto, a escola avança de forma muito mais lenta, como se observa na recente pesquisa. Apelidos grotescos, maus-tratos, ofensas e ameaças são constantes, implicando sofrimentos maiores.
A pesquisa mostra também que, quando o tema é ser ou parecer homossexual, a violência é banalizada, naturalizada, não é vista como um grave problema, mas como brincadeira. Não há a percepção do desrespeito.
As consequências da discriminação e do preconceito podem ser decisivas no desempenho escolar e para a autoestima dos estudantes. Sabe-se que eles perdem o interesse pela escola, como foi verificado na pesquisa, ou são transferidos constantemente de sala, de colégio, e a reprovação e o abandono escolar acabam sendo uma constante.
A homofobia nas escolas, aliás, merece atenção especial no contexto de uma questão mais ampla, que a abrange: a das violências no ambiente escolar. Esse problema não tem recebido, ainda, a atenção devida por parte das autoridades responsáveis pela implementação de políticas públicas (a preocupação recente do governo do DF é uma das poucas exceções), e os educadores em geral mostram-se espantados e assustados.
Urge que pais, professores, estudantes e funcionários das instituições de ensino organizem-se para construir ferramentas e estratégias pedagógicas de enfrentamento da homofobia no ambiente escolar, bem como das demais formas de estigma, preconceito e discriminação. Afinal, não há como negar o problema.
É preciso que a sociedade avance e torne seu comportamento adequado ao que há de mais atual nas ciências biológicas, humanas e sociais.
JORGE WERTHEIN, sociólogo, mestre em comunicação e doutor em educação pela Universidade Stanford (EUA), é diretor-executivo da Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana). Foi representante da Unesco no Brasil.
MIRIAM ABRAMOVAY, socióloga, mestre em sociologia da educação pela PUC-SP, pesquisa violência nas escolas.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
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